ATA DA PRIMEIRA SESSÃO SOLENE DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLA­TIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 27.03.1990.

 


Aos vinte e sete dias do mês de março do ano de mil novecentos e noventa reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Primeira Sessão Solene da Segunda Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura, destinada à entrega do título honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Dr. Flávio Moura de Agosto, concedido através da Lei nº 6485 de trinta e um de dezembro do ano passado. Às dezessete horas e dezenove minutos, constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e convidou os Líderes de Bancada a conduzirem ao Plenário as autoridades e personalida­des presentes. Compuseram a Mesa: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Dr. Olívio Dutra, Prefeito Municipal de Porto Alegre; Dr. Quintiliano Machado Vieira, representando o Governo do Estado do Rio Grande do Sul; Dr. Gildo Vissoky, Vice-Presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul; Dr. Cláudio Balduíno Franzen, representando a Associação Médica Brasileira; Dr. Werner Becker, ex-Vereador e autor do Projeto de Lei do Legislativo nº 178/88; Dr. Flávio Moura de Agosto, Homenageado; Bacharel Maria Teresinha de Agosto, esposa do Homenageado; Ver. Lauro Hagemann, 1º Secretário da Casa. A seguir, o Sr. Presidente pronunciou-se acerca da presente homenagem e concedeu a palavra aos Vereadores que falariam em nome da Casa. O Ver. Isaac Ainhorn, como requerente desta Sessão Solene e em nome das Bancadas do PDT, PMDB, PTB e PL, destacando ser a proposta do título honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Dr. Flávio Moura de Agosto de autoria do ex-Ver. Werner Becker, discorreu sobre a vinda do Homenageado ao Estado e o trabalho por ele desenvolvido em prol da nossa Cidade. O Ver. Lauro Hagemann, em nome da Bancada do PCB analisou a justeza e o significado do título hoje entregue, como representativo do agradecimento da comunidade àqueles que, vindos de outros locais, colaboraram para o crescimento de Porto Alegre. Comentou os diversos aspectos envolvidos na profissão escolhida pelo Homenageado. O Ver. Artur Zanella, em nome da Bancada do PFL, falou de sua satisfação por participar desta Sessão Solene. Discorreu sobre a forma como é concedido o Título de Cidadão de Porto Alegre, através de Projeto de Lei, ressaltando ter recebido o nome do Dr. Flávio Moura de Agosto a unanimidade dos Votos dos Vereadores da Casa. O Ver. Adroaldo Correa, em nome da Bancada do PT, dizendo ter integrado o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, como Assessor de Imprensa, teceu comentários sobre a capacidade de liderança e de trabalho do Homenageado com outros grupos e categorias, visando o benefício da população de Porto Alegre. Falou sobre o Projeto de Lei Orgânica, especialmente no referente à área da saúde. E o Ver. João Dib, em nome da Bancada do PDS e do PSB, declarou ser a presente homenagem dirigida a toda a classe médica do Estado. Falou da afeição que o une ao Dr. Flávio Moura de Agosto, salientando os ideais de luta de S.Sª em busca de melhores condições de trabalho para os profissionais de sua área e em busca de melhores condições de vida para a comunidade porto-alegrense. Após, o Sr. Presidente concedeu a palavra ao Dr. Werner Becker, que discorreu sobre a atuação humana e pública do Homenageado. A seguir, o Sr. Presidente convidou os presentes a, de pé, assistirem à entrega, pelo Prefeito Olívio Dutra e pelo Dr. Werner Becker, respectivamente, da Medalha e do Diploma referente ao título honorífico de Cidadão de Porto Alegre ao Dr. Flávio Moura de Agosto e concedeu a palavra ao Homenageado, que agradeceu o título recebido. Em prosseguimento, o Sr. Presidente agradeceu a presença de todos, convidou as autoridades e personalidades a se dirigirem  à Sala da Presidência e, nada mais havendo a tratar, levantou os trabalhos às dezoito horas e vinte e oito minutos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelo Ver. Valdir Fraga e secretariados pelo Ver. Lauro Hagemann. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário,  determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.

 


O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Estão abertos os trabalhos da presente Sessão Solene destinada a homenagear, com a entrega do título honorífico de Cidadão de Porto Alegre, o Dr. Flávio Moura de Agosto. O Projeto foi apresentado pelo Ver. Werner Becker, em 1988. O Ver. Werner Becker não se reelegeu e, através de um Requerimento do Ver. Isaac Ainhorn e, também, do Ver. Artur Zanella, como titulares, estamos fazendo, então, a homenagem ao Dr. Flávio Moura de Agosto como Cidadão de Porto Alegre. O Projeto foi aprovado pela unanimidade desta Casa.

Ao cumprimentar o nosso ilustre homenageado, o fazemos também à classe médica rio-grandense, por abrigar, em seu seio, um profissional da envergadura do Dr. Flávio Moura de Agosto em tão boa hora lembrado, por iniciativa do ex-Ver. Werner Becker, para integrar a galeria de honra dos Cidadãos de Porto Alegre.

Flávio Moura de Agosto é gaúcho por opção, pois é natural do Rio de Janeiro e, desde que aqui aportou, só granjeou amizades, fruto de sua extrema dedicação à carreira que abraçou.

De imediato, nós passamos a palavra ao Ver. Isaac Ainhorn que representa, nesta Sessão, a sua Bancada, o PDT, e as Bancadas do PMDB, PTB e PL.

 

O SR. ISAAC AINHORN: (Menciona os componentes da Mesa.) Meus colegas Vereadores, minhas senhoras e meus senhores. Há certos títulos que suscitam em nós, Vereadores, aquela vontade de termos sido o proponente da homenagem. A outorga do título de Cidadão de Porto Alegre, através de Lei Municipal, ao Dr. Flávio Moura de Agosto é daqueles títulos que qualquer um dos Vereadores teria a honra de ser o autor, de ser o proponente. A vida, de repente, nos apresenta certas circunstâncias em que acabamos vinculados à propositura de uma homenagem através de caminhos tortuosos, como este em que o autor do Projeto de Lei foi o ex-Vereador Werner Becker e que, por circunstâncias outras, a outorga não pôde ser efetuada na própria Legislatura em que fez parte o Ver. Werner Becker. Coube a mim a honra de, já transformado em Lei o Projeto de autoria do Ver. Werner Becker, solicitar à Presidência da Câmara de Vereadores que encaminhasse os procedimentos para que, em Sessão Solene, esta Casa entregasse o título que passa por todo o processamento que passa uma Lei Municipal. Ela é aprovada pela Câmara, e o título de Cidadão de Porto Alegre é feito por votação secreta e vai à sanção do Prefeito Municipal. Posteriormente, seguindo a tramitação, é publicado, também, no Diário Oficial do Estado. Então, passada toda essa tramitação, estamos aqui, hoje, num momento maior desta solenidade e, outorgamos ao Dr. Flávio Moura de Agosto o título de Cidadão de Porto Alegre e a outorga trata-se de uma cidadania em função, exatamente, daquilo que ele construiu na Cidade em que ele adotou por sua livre opção, por sua livre vontade de escolha.

No dia de São João de 1942, considerado o dia mais frio do ano, chegava a Bagé, com nove anos, o carioca Flávio Moura de Agosto. De fato, na “Rainha da Fronteira” os termômetros assinalavam seis graus abaixo de zero. O menino do Bairro Tijuca, onde nasceu a 24 de janeiro de 1933, sentiu o impacto da temperatura violentamente diversa de sua cidade natal, mas ao que tudo indica, não se arrependeu. Começou, aos nove anos, a amar este Estado e, principalmente, um ano após, quando veio para esta Cidade, gostar de Porto Alegre que adotou como sua.

Um dos fundamentos do Estado Democrático de Direito, que é nossa República, é a cidadania. Obviamente, esta que se outorga a título honorífico com ela não se confunde. Contudo, este título não é doado, mas se conquista. Quem o recebe faz jus e merece-o por seu trabalho para a cidade que lhe confere a cidadania.

Flávio de Agosto, já na sua infância, viu marcada sua crença em dois princípios fundamentais: que idéias, que podem se confundir com ideais, não podem ser objetos de negociação; e um profundo sentimento de repulsa ao culto da personalidade e à ditadura, de um modo geral.

Flávio de Agosto fez seus primeiros estudos no Grupo Escolar Argentina e complementou-se no Ginásio Rosário. Ausentou-se de Porto Alegre durante dois anos para retornar ao Rio. Nestas andanças era, no Rio, alcunhado de “gaúcho”, e em Porto Alegre o chamavam de “carioca”.

Depois desta escapada, não mais se afastou de nossa Capital. Aqui, ingressou na Medicina da Universidade do Rio Grande do Sul. Formado em 1957, já, há três anos, trabalhava na área da anestesiologia, que ainda hoje é sua especialidade. Mas, nesta época, seu amor pela Cidade explode em forma da Santa Casa de Misericórdia. Lá, anestesiologista das Enfermarias 31, 25 e 35, do Instituto de Neurologia, convive com grandes nomes da Medicina: Luiz Sarmento Barata, Ivo Corrêa Meyer, Elyseu Paglioli, além de Vicente Passos, Maia Filho, Olavo Castagna e os médicos daquelas enfermarias, Salomão Cutin, Jacob Berger, Henrique Barata, sendo que este último é, até agora, seu particular amigo.

É nomeado Diretor das Clínicas da Santa Casa de 1967 a 1970 e Irmão da referida entidade. É, até hoje, Professor titular da antiga Faculdade Católica de Medicina e Diretor do Serviço de Anestesiologia da Santa Casa.

Seu currículo é notável, vasta sua bagagem científica. Por duas vezes, foi Presidente do Departamento de Anestesiologia da AMRIGS e secretário, igualmente, por duas gestões. Em 1962, foi Diretor da Sociedade Brasileira de Anestesiologia e, em 1964, foi eleito para a Banca do Título de Especialista em Anestesiologia, período de 1964 e 1967. Foi em 1967, Presidente da referida Comissão. Freqüentou vários congressos, seminários e encontros. São diversos os trabalhos apresentados nestes eventos.

Casado com Maria Teresinha Abs da Cruz de Agosto, em 31 de dezembro de 1962, hoje tem quatro filhos, dois jovens acadêmicos de Engenharia e Arquitetura e duas jovens que tendem para a Medicina.

Mas, Flávio de Agosto não recebe este título de cidadania somente por seu cabedal de conhecimentos, seus exitosos feitos, seu elogiável trabalho. Vale-lhe esta outorga que lhe propôs conceder o ex-Vereador Werner Becker, acima de tudo por seu trabalho junto às comunidades, missão fácil de ser entendida, mas difícil de ser cumprida. Flávio de Agosto a cumpriu com méritos. Dele, para resumir sua personalidade, sua própria frase, que o mostra desprendido, corajoso, humano, voltado sempre           para os mais carentes: “num País onde se paga impostos não pode haver indigentes”. É com enorme satisfação que hoje a Câmara Municipal de Porto Alegre, Dr. Flávio de Agosto, lhe outorga esta homenagem, lhe concede o título, esta cidadania que há muito V. Sª já era merecedor. E para mim, alegria maior, antes de encerrar estas frases, aqui, neste momento, presente já se encontra entre nós o autor do Projeto de Lei, Ver. Werner Becker, a quem coube a iniciativa de ter proposto a esta Casa um Projeto de Lei que se transformou, posteriormente, em Lei e que, hoje, nesta quase tarde outonal a Câmara de Vereadores se sente gratificada em reconhecer o trabalho que V. Sª fez em benefício da Cidade de Porto Alegre, em benefício da população de Porto Alegre e do nosso Estado. É por todas essas razões que nos sentimos extremamente honrados, orgulhosos e conscientes e com a certeza de que no momento em que outorgamos este título de cidadania com sanção de S. Exª o Prefeito Municipal, nós estamos realizando aquilo que também é da natureza deste Legislativo, que é o reconhecimento àquelas pessoas que muito se destacaram e que, por algumas circunstâncias, aqui não nasceram, mas são porto-alegrenses muito mais do que por nascimento, por opção. Receba de nós, da Bancada do PDT, da Bancada do PMDB, do PL e do PTB a quem, neste momento, Dr. Flávio de Agosto, tenho a honra de representar nesta tribuna. Nossos cumprimentos e nossa homenagem. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convidamos a fazer parte da Mesa o nosso querido amigo Werner Becker, ex-Vereador desta Casa. Registramos, com prazer, a presença na Mesa do Dr. Cláudio Balduíno Franzen, representando a Associação Médica Brasileira; registramos, com prazer enorme, a presença do Dr. Marcelo Feijó, é uma honra tê-lo aqui presente. Com a palavra o Ver. Lauro Hagemann, pela Bancada do PCB.

 

O SR. LAURO HAGEMANN: (Menciona os componentes da Mesa.) Senhores Vereadores, senhoras e senhores. A Cidade de Porto Alegre ao correr dos anos tem homenageado com título de cidadania aquelas figuras que realmente aportaram em nossa Cidade e para cá trouxeram, não só a sua sabedoria, a sua experiência, mas, sobretudo, o seu amor por esta terra. Dr. Flávio de Agosto é uma destas pessoas, nascido longe daqui, se aquerenciou, como nós dizemos, e hoje é um dos cidadãos prestantes desta Cidade. E a Cidade lhe retribui, com o título de Cidadão Emérito. É um título honorífico, representa uma medalha, um diploma, mas é muito mais do que isto, é o reconhecimento pela sua dedicação, pelo seu trabalho, pelo seu interesse. E o Dr. Flávio de Agosto transcendeu o âmbito profissional. A par de seu extenso currículo, na ciência que escolheu como profissão, ele se dedica, também, à organização de seus companheiros. E é sobre este aspecto que eu gostaria de me deter: o Presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul. Os médicos são uma categoria difícil. Numa época como esta em que vivemos, a maioria se transformou em empregados e, como tal, tem exigências de ordem trabalhista, social. E o Dr. Flávio se presta a este trabalho de arregimentação, de verdadeiro apostolado entre os médicos, porque os interesses são tão díspares quanto são os integrantes da categoria. Não deve ser tarefa fácil. Falo isto como ex-dirigente sindical que fui. E o Prefeito Olívio Dutra deve saber bem, também, como é difícil isto, embora nossas categorias sejam diferentes. Mas o fato de se dispor a este trabalho, que decorre da sua autoridade como profissional, mas que principalmente decorre da sua vontade como ser humano, é que deve ser ressaltado em nosso homenageado. A Cidade cumpre, hoje,  um ato solene, por iniciativa do Ver. Werner Becker, que nos honrou com sua presença na Legislatura passada, mas que a Câmara toda acolheu, por unanimidade. Exatamente, reconhecer, na pessoa do homenageado, Dr. Flávio de Agosto, aquela pessoa que nós, porto-alegrenses, gostamos de ter como nosso concidadão. Dr. Flávio, Dona Teresa, a sua responsabilidade é um pouco maior a partir de hoje, pois o senhor é Cidadão de Porto Alegre, com medalha e diploma. (Palmas.) Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Fala, pelo PFL, o Ver. Artur Zanella.

 

O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente, Ver. Valdir Fraga; Prefeito Olívio Dutra; Dr. Quintiliano M. Vieira; Dona Maria Teresinha de Agosto; Dr. Gildo Vissoky, também um lutador pela sua categoria; Dr. Cláudio Franzen, e vejo, hoje, com alegria, e talvez um pouco de tristeza, o Ver. Werner Becker; minhas senhoras, meus senhores. Costumo dizer, nestas Sessões Solenes, que a Casa enfrenta de tudo, aqui. Temos, agora, a votação de uma Lei Orgânica, muito difícil, com os problemas econômico-financeiros do próprio País e, na verdade, isto aqui normalmente é uma Sessão de angústia, com problemas, com discussões, mas também, felizmente, temos algumas Sessões em que podemos expressar a nossa alegria e a nossa tranqüilidade sobre certos fatos e assuntos. Pouco conheço o Dr. Flávio Moura de Agosto, e devo ter conversado com ele quatro ou cinco vezes na minha vida. Neste trabalho que se faz pela Cidade, Cidade que tanto queremos e a que tanto devemos, às vezes, seus habitantes, todos generosos, às vezes, os habitantes cometem alguma injustiça, e uma dessas injustiças foi a não recondução a esta Casa do Ver. João Werner Cantalício Becker. Num determinado momento, em conversa com ele, ele me recomendou certas coisas e pediu-me que solicitasse a retirada dos arquivos, para onde vão todos os processos ao final do ano, do processo em que ele, Werner, pedia o título de Cidadão de Porto Alegre para o Dr. Flávio Moura de Agosto.

Consultadas as Bancadas, a Mesa, os Vereadores, se conseguiu aquele conjunto de anuências que se precisa para enfrentar uma votação secreta para dar o título para alguém. Não é fácil conseguir o apoio mínimo de 22 dos 33 Vereadores, que numa cabine secreta, escondida de todos, colocam lá o seu voto. Não é fácil conseguir a unanimidade que o Dr. Flávio conseguiu. Mas, antes disto, como sempre, fiz algumas perguntas a respeito do homenageado, que naquele momento eu estava assumindo. Achei uma coisa interessante, todos a quem consultava diziam as virtudes, mas ao final apresentavam um defeito, até aponto-os aqui. Diziam: muito bom, mas é muito inflexível; muito bom, mas não tem jogo de corpo; muito bom, mas defende demais a classe dele; muito bom, mas politicamente muito difícil, não muda de idéias, tem idéias sempre as mesmas, não muda de idéia muito facilmente. Achava que tudo aquilo não eram defeitos, eram virtudes, como estou declarando isto no dia de hoje.

Mas, além da alegria deste título, a alegria que hoje, se for possível, vou ouvir o Dr. Werner Becker, que é o autor da homenagem. Digo se for possível, porque a minha mãe não me perdoará se eu não for a uma determinada missa, hoje, às 18 horas, porque é uma missa familiar. E eu vou fazer o possível, ainda, para ouvir o Dr. Werner e o homenageado. Se não conseguir ouvi-los, eu tenho certeza que ouviria o que há de alegria num dia como o de hoje, em uma Porto Alegre que não concede nada a alguém injustamente. Não concede nada a alguém porque esta Casa resolveu dar, mas sim porque é uma questão de justiça que esta Casa homenageie a todos aqueles que, vindos a ela nos trazem a sua capacidade, a sua honradez, a sua retidão de caráter e, principalmente, nos trazem aquele traço humano que todos nós esperamos, principalmente da classe médica. A classe médica que enfrenta tantos problemas e enfrenta seus pacientes. E até por brincadeira, para não ser tão solene, eu dizia que via o Dr. Cláudio Franzen com alegria e com um pouco de tristeza, porque ele é meu médico e eu fujo dele há mais de um mês, para não ser examinado, de medo de ter alguma coisa, com aquela tendência que o paciente tem de sempre jogar a culpa no médico e reclamar a sua cura para o dia seguinte, sem tomar remédio e sem seguir nenhuma das prescrições determinadas por ele. Eu sei que a sua vida é difícil, Dr. Flávio, mas eu espero que, hoje, ao receber esta homenagem que a Câmara de Vereadores, que representa o povo de Porto Alegre, um pouco daquela dívida que o nosso povo tem com o senhor, seja resgatada no dia de hoje. Eu espero que o senhor continue sempre como o senhor sempre foi. Isto não é uma aposentadoria precoce. Isto aqui é um chamamento para que o senhor continue como é, ajudando esta Cidade e ajudando ao seu povo. Sou grato. (Palmas.)  

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Convidamos o Sr. Dr. Marlonei Rodrigues, Presidente do Sindicato Médico de Caxias do Sul e Secretário Municipal de Saúde daquele Município para fazer parte da Mesa. Gostaria de registrar a presença do Deputado Carrion Júnior que esteve conosco até alguns momentos. Com a palavra o Ver. Adroaldo Corrêa, que fala pela Bancada do PT.

 

O SR. ADROALDO CORRÊA: (Menciona os componentes da Mesa.) Demais Vereadores, senhoras e senhores presentes. Eu, de certa forma, indicado pela Bancada do Partido dos Trabalhadores para fazer este pronunciamento, faço-o também, em meu nome pessoal. Sou um ex-integrante do quadro de funcionários do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, fui assessor de imprensa durante cinco anos naquela entidade, desde a gestão do Dr. Carlos Sá, em 1982, e ambos têm uma qualidade que, em relação ao PT pode parecer, do ponto de vista da política, contraditório, mas tivemos a capacidade de conviver com pensamentos opostos. Toleraram-me, do ponto de vista de que eu era do PT e da CUT, e ambos, na época, nem do PT, muito menos da CUT, nem da CGT que se formava, ainda. Mas a principal questão a colocar é a capacidade de convivência do homenageado, destacando este aspecto, com a divergência. Afirmando, sim, a inflexibilidade de seus princípios, mas construindo conceitos na diversidade e, principalmente, na tentativa de representar uma categoria que é denunciada, eventualmente, por cooperativismo, mas que no sindicato, com certeza, a Direção continuada do Presidente Flávio de Agosto, e sou testemunha ocular da história porque registrei estes pensamentos, foi capaz de sublimar o interesse da categoria, especificamente, e unificá-la ao bem público e ao bem social.

A aproximação que tenho com o conceito de saúde me veio de duas origens, basicamente: da Faculdade de Medicina, que não cursei, da UFRGS, mas acompanhei na militância política estudantil e, posteriormente, na cobertura desta militância e desta organização dos estudantes a partir do Centro Acadêmico Sarmento Leite, e do relacionamento com os profissionais médicos das diretorias diversas com quem freqüentei no Sindicato Médico durante esses cinco anos a partir de 1982. Inclusive, a tolerância foi ao nível em que, enquanto meu partido exigia que a candidatura fosse imposta, para minha pessoa, em nível de Vereador, depois Deputado Estadual, de 1982 a 1986, conseguíamos conciliar as necessidades da sobrevivência do trabalhador com a expressão política do partido, e as necessidades de expressão no órgão de opinião na categoria dos médicos, as tarefas distintas e os papéis distintos, que vivíamos, nesta época. E tanto na gestão do Dr. Carlos Sá, como na gestão, nas duas que convivemos com o Dr. Flávio Moura de Agosto, tivemos esta experiência democrática, que do nosso ponto de vista creio que salutar para a construção de um processo de democracia e da reconquista do espaço democrático em nosso País.

Vivemos uma fase, naquela época, de construção de conceitos de saúde, também na divergência. Vale reportar a 8a Conferência Nacional de Saúde, em que o próprio Presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul liderava uma posição, e nós, da CUT, liderávamos outra posição, e tínhamos enfrentamento de contrários e unidade, eventualmente, naquela divergência, também no plano nacional. E nada obstruiu o nosso trabalho enquanto pessoa no Sindicato, enquanto profissional jornalista, enquanto criadores, não eu, particularmente, mas a corrente a que me filiava, de um conceito para a saúde no País. Eu, aí, acho que a contribuição que tive naquele período vai acrescentar na minha existência muito mais do que na existência de qualquer outra pessoa porque consigo estabelecer, hoje, uma referência destes conceitos na Lei Orgânica do Município de Porto Alegre, que estão quase na sua totalidade consolidados no Capítulo da Saúde, na Ordem Social. Basta ler o Projeto III, que promulgaremos na Constituição, no dia 3 de abril,  e teremos noção de que esta experiência, para mim, serviu profundamente como experiência da convivência dos contrários que unificou conceitos e consolidou uma rica experiência pessoal com alguém que seguramente tinha tudo para colocar, ali, naquele lugar, editor da opinião daquela categoria, um da sua plena confiança. E eu, felizmente, mereci esta confiança. Acredito que, do ponto de vista da homenagem, é mais do que justa: ela reconhece não o Cidadão Flávio Moura de Agosto, mas o dirigente de uma categoria que já é um Cidadão do País, exerce sua plena cidadania e oferece a toda uma categoria que se unifica numa proposta política, a densidade de uma manifestação do Legislativo Municipal, nesta homenagem simples, singela, mas duradoura e reconhecidamente aquela homenagem que todos, amigos ou eventualmente adversários políticos do Dr. Flávio Moura de Agosto, gostaríamos de prestar num ou noutro momento. Nós prestamos, o Partido dos Trabalhadores, acredito, nesta que é mais uma expressão pessoal do que da Bancada, mas talvez por isso tenha sido indicado para fazer, a nossa homenagem enquanto uma organização política que reconhece a qualidade do trabalho, a afinidade com o social e a necessidade de que este País tenha sempre uma existência democrática e a construção de conceitos, embora na adversidade, que venham servir à melhoria da qualidade de vida em nosso País. E nisso nós estamos juntos, o homenageado e o Partido dos Trabalhadores. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Fala, pelo PDS e PSB, o Ver. João Dib.

 

O SR. JOÃO DIB: Ver. Valdir Fraga, Presidente da Câmara; Prefeito Olívio Dutra; caro e querido amigo Flávio Moura de Agosto, e sua Maria Teresinha; Dr. Quintiliano M. Vieira; caro amigo Gildo Vissoky; Dr. Cláudio B. Franzen; meu amigo Werner Becker, Werner Cantalício João Becker, que o Zanella tentou dizer e acho que não conseguiu; Dr. Marlonei Rodrigues, do Sindicato Médico de Caxias do Sul e Secretário de Saúde daquele Município; amigos e colegas de Flávio Moura de Agosto; meus senhores, minhas senhoras. Ontem, nesta tribuna, homenageávamos Porto Alegre que completava 218 anos. Hoje, homenageamos a classe médica gaúcha, e porto-alegrense, em especial, e esta homenagem se faz outorgando o título de cidadão de Porto Alegre a um dos expoentes da classe médica do Rio Grande do Sul, Flávio Moura Agosto. Homenagem justa, sem dúvida nenhuma, homenagem do reconhecimento do trabalho prestado, porque nada mais dignifica o homem do que o trabalho realizado com consciência, com a preocupação de bem servir, e conseguindo aprimorá-lo a cada dia que passa. Poderia estar nesta tribuna, neste momento, pelo meu partido, o Ver. Mano José, que é médico, mas ele sabendo da afeição que tenho pelo Flávio, disse: o meu Líder vai falar. E é com prazer imenso que estou aqui. Claro que Werner Becker, quando apresentou a sua proposição dando o título ao Flávio, trouxe um extenso currículo. Claro que cada um daqueles itens foi conquistado por luta, por mérito, mas neste momento não dou importância a nenhum deles, prefiro olhar o homem Flávio Moura de Agosto que tem idéias, ideais, espírito de luta e que busca melhorar o serviço médico na comunidade em que vive e que busca atender melhor os seus pacientes. E nós temos uma comunidade médica extraordinária. Há 21 anos, mais ou menos, nesta época, eu fui para a Inglaterra, para um hospital, porque diziam que lá teriam recursos para mim. Lá fiquei por 2 meses e tudo o que aprendi e senti de bom foi quando eu me despedia do Diretor do hospital e ele me disse que eu voltava para uma cidade que tinha médicos de primeira grandeza, pois aquilo que tinham feito comigo em Porto Alegre era o que poderia ter sido feito. E eu me senti orgulhoso, como neste momento deve-se sentir orgulhoso cada médico desta Cidade, mas, em especial, o nosso homenageado de hoje, que tem dedicado a sua vida, a sua atenção, pesquisando. E é claro que ele não vai colocar no currículo as suas boas qualidades, as suas virtudes, mas nós, que somos seus amigos, nós, que fomos seus pacientes, nós que trabalhamos junto com ele, nós todos sabemos reconhecer essas qualidades e virtudes que, mais do que o próprio currículo, fizeram com que Flávio Moura de Agosto fosse o mais novo Cidadão de Porto Alegre, 218 anos e um dia depois da fundação da Cidade. É uma data histórica, um marco. Mas, Flávio Moura de Agosto, a homenagem que está sendo prestada, agora, é o reconhecimento por trabalhos prestados, por uma vida eficiente e dedicada à comunidade porto-alegrense, à classe médica, aos pacientes, mas é também a homenagem que diz que Flávio Moura de Agosto deve continuar trabalhando muito mais. Eu já disse outra vez, nesta tribuna, que li uma pequena frase que me impressionou profundamente: “O grande perigo da atualidade é o cansaço dos bons”. Flávio Moura de Agosto, a Cidade está te dizendo que és um bom e nós, aqui, na Câmara Municipal, nós, teus amigos, estamos te pedindo: não cansa! Continua na mesma trajetória, com o mesmo entusiasmo, procurando servir e servir bem. Muito obrigado. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Exigimos que V.Sa, Dr. Werner Becker, faça uso da tribuna, pois ela está com saudades suas.

 

O SR. WERNER BECKER: Sr. Presidente, Sr. Prefeito, Dr. Quintiliano, representante do Sr. Governador do Estado, demais autoridades. Pois é, as coisas da política sempre me pegam de surpresa e nessa surpresa sempre manejo muito mal com elas. Desculpem se apenas vou gaguejar alguns elogios, repetir obviedades e declamar um lugar comum. Mas ao falar de surpresa, lembro-me de uma surpresa a uma hora da tarde, não foi agora, faz muito tempo, os dias eram mais negros e as coisas eram mais difíceis. Ligaram para a minha casa, talvez pouca gente saiba disso, ou ninguém, que o Dr. Flávio Moura de Agosto, o Dr. Carlos Sá, estavam sendo chamados na Polícia Federal para serem indiciados por crime contra a segurança nacional. O pior é que era verdade! Chamaram-me e eu, na minha rotina, já acompanhei tantos e tantos, os levei até lá. Registro que nunca vi ninguém tão grato a mim – e não fiz nada, apenas afirmei que era alguma coisa de kafkiano como tudo o que acontecia naquele tempo – até hoje e eu não fiz nada, eu apenas afirmei que era uma coisa kafkiana, e com tudo o que aconteceu eu nunca vi três clientes políticos tão gratos a mim, até hoje, como esses três médicos a que me referi. Isso significa alguma coisa. Quando o Ver. Adroaldo Corrêa falou em controvérsia eu entendi, há muito tempo, que o que separa os homens não são as palavras, mas os atos. Então, esta atitude, onde não lembram depois nem uma vez como vítimas e nem uma vez como heróis, se mantiveram silenciosos, mas no momento foram muito firmes e duros, não entraram sorrindo e nem apiedados, nem humilhados. Isso mostra que esses líderes sindicais talvez tenham com a sua classe tanto em comum quanto outros que são conhecidos até com mais evidência. Não critico os outros, mas gostaria que todos soubessem ou lembrassem que cada um tem seu estilo de fazer as coisas e que o estilo das pessoas deve ser fundamentalmente, respeitado. Desculpem porque mais uma vez a política me pegou de improviso e mais uma vez tenho consciência de que me saí mal, mas isso faz parte da minha vida. Mas eu não poderia terminar sem dar um abraço a dois Prefeitos e posso dizer que, apesar de tudo, com as controvérsias de antes e as controvérsias de agora, acho que ainda dá para dizer que são meus amigos: Prefeito João Dib e o Prefeito Olívio Dutra.

Muito obrigado pela atenção, especialmente, ao meu Presidente eterno, Ver. Valdir Fraga. (Palmas.)

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Agora chegou a hora do Diploma e da Medalha e o diploma diz o seguinte: (Lê.)

Convido a todos para que, de pé, assistam à entrega do Diploma e da Medalha. O Diploma, pelo Dr. Werner Becker, que representa a Casa neste momento, e a Medalha, pelo nosso querido Prefeito Olívio Dutra, pela Cidade.

 

(É feita a entrega.)

 

O SR. PRESIDENTE: Com a palavra o Dr. Flávio Moura de Agosto. 

 

O SR. FLÁVIO MOURA DE AGOSTO: Exmos Srs. Vereadores: Valdir Fraga, Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre; Flávio Koutzii, Líder do PT; Clóvis Brum, Líder do PMDB; Luiz Braz, Líder do PTB; Vieira da Cunha, Líder do PDT; João Dib, Líder do PDS; Lauro Hagemann, Líder do PCB; Artur Zanella, Líder do PFL; Omar Ferri, Líder do PSB; e Wilson Santos, Líder do PL; Drª. Gerda Callefi, Presidente da AMRIGS; Dr. Mário Henrique, Presidente do CREMERS; Dr. Cláudio Algayer, Presidente da ASHOSPITAIS; Ver. Isaac Ainhorn; Dr. Werner Becker; meus funcionários, amigos e familiares; senhoras e senhores.

Porto Alegre jovem em seus 218 anos, um dia após seu aniversário, ao invés de receber, dá um magnífico presente a um de seus moradores. Este presente, o de ser agraciado como Cidadão de Porto Alegre, pela benevolência de seus representantes, que hoje é a mim concedido, confesso de público ser razão de orgulho. Minhas palavras, caso restritas ao aspecto emocional, estariam resumidas em um imenso “muito obrigado”. Porém resta-me a indagação se este título é resultado apenas da generosidade dos membros desta Casa ou se existe algum mérito naquele que recebe. E procurei respostas. Para tal, vali-me do saber de minha professora exclusiva de filosofia, Maria Teresinha de Agosto, minha esposa. Ela ensinou-me que Ortega Y Gasset postulava: “Eu sou eu e minhas circunstâncias”. Então tudo ficou claro. Todas as circunstâncias que ao longo do tempo vem me acompanhando agiram como determinantes, que resultaram neste momento. A primeira e fundamental é de ter sido um migrante compulsório há 49 anos, junto com minha família, quando meu pai, por razões funcionais, foi transferido para o Rio Grande do Sul.

Meu primeiro morar gaúcho foi em Bagé, de onde, um ano após, por nova transferência, viemos para Porto Alegre. E nesta nossa Cidade cresci. Aqui, completei meu ciclo primário no Grupo Escolar Argentina, o secundário e o colegial em nosso tradicional Colégio Rosário e formei-me na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. No passar desses anos fui colecionando amizades e afetos, dentre eles minha esposa, com quem – dela e com ela – originamos um núcleo de gaúchos, porto-alegrenses, nossos filhos, que têm a felicidade de terem direito ao título que hoje recebo, por razões de cidadania natural.

Desde cedo, como estudante e profissional, liguei-me fortemente à nossa Santa Casa de Misericórdia. Nela fiz meu aprendizado e cheguei a ocupar o cargo de Diretor, pois outra circunstância feliz foi a de ter sido anestesiologista do saudoso Professor Luiz Soares Sarmento Barata que, quando Provedor daquela instituição, nomeou-me para o cargo citado. Ao assinar a nomeação, ele vaticinou estar me introduzindo na vida pública. Esta profecia se realizou através das lides classistas. Atraído desde cedo pelos aspectos associativos, fiz parte de quadros diretivos em sociedades específicas da especialidade, tanto em nível estadual como nacional. O exercício destas funções levou-me à aproximação com o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul.

E esta foi a circunstância que, creio, hoje resulta no titulo que recebo. Pois foi no SIMERS que conheci Werner Becker, quando prestou sua inestimável colaboração como Assessor Jurídico, convívio este transformado em amizade, que o levou, quando Vereador nesta Casa, por razões do coração e não por julgamentos de mérito, a propor nosso nome para consecução desta honraria. Certamente, por seu prestígio, obteve a conivência e a cumplicidade dos atuais Vereadores, permitindo o desfecho favorável à sua proposição. Vejam, pois, os senhores, que apenas as circunstâncias agiram independente do “eu”. Por razões da própria atividade classista, este “eu” participava ativamente, seja em nível local, estadual ou federal, de todos os movimentos em relação à saúde, seja através de conselhos, em reuniões ou congressos, encontros ou conferências, agindo e procurando influir aos níveis deliberativos e decisórios, sempre tentando pautar e compatibilizar os desejos e anseios da categoria com os direitos maiores da sociedade, no entendimento que o equilíbrio destes interesses não são conflitantes, e sim desejáveis, pois redundarão em benefício do bem comum. E, para que isso seja possível, posto que realizado paralelo e simultaneamente com as atividades profissionais, é necessária a existência de uma imensa rede de apoio, traduzida em afeto, compreensão e trabalho desinteressado. E a estas pessoas é que quero dedicar meus primeiros e mais sinceros agradecimentos.

Agradeço aos colegas das várias diretorias associativas de que já participei, que nunca faltaram com seu apoio, seja sob a forma de incentivo, críticas ou sugestões. Aos colegas do Centro Profissional de Anestesiologia, grupo ao qual pertenço, que cobrem minhas ausências sem que ouça manifestações críticas de desagrado. À Santa Casa, que até hoje me agracia como Diretor do Serviço de Anestesiologia, permitindo que lá desenvolva um programa de pós-graduação sensu-lato, que é a residência médica e de onde saíram dezenas de anestesiologistas que hoje concorrem com seu labor para a qualitação profissional em todos os recantos do nosso Estado, e dos quais tenho uma parcela de orgulho por ter participado de sua formação. À Fundação Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre, faculdade em que leciono, pois me permite, através do convívio com os alunos e corpo docente, ver a necessidade do permanente aprendizado, mantendo-me sempre curioso do que acontece no, hoje, médico. Aos meus amigos de quem sempre recebo palavras de estímulo e, muitas vezes, sugestões preciosas. Em especial, agradeço aos companheiros de várias diretorias e à atual do SIMERS, aos funcionários, às assessorias de divulgação, contábil e jurídica, aos delegados e aos nossos sócios, que ao longo do tempo vêm demonstrando confiança em nosso trabalho, através de sucessivas reeleições. Particularizo meu agradecimento a todos na pessoa do Dr. Gildo Vissoky, Vice-Presidente, com quem nós estamos juntos desde os primeiros momentos da atividade sindical.

Seus comportamentos e dos demais diretores é sempre pautado pela extrema dedicação às causas da categoria e da entidade. Responsáveis reais pela grandeza e prestígio do Sindicato permanecem, o mais das vezes, no anonimato, transferindo as vitórias como se fossem méritos do Presidente, no entanto sempre solidários no assumir e compartilhar as responsabilidades dos maus momentos.

Aos meus colegas com quem trabalho, pelo apoio e compreensão ao profissional, pela confiança no saber e no fazer.  Aos meus familiares, à minha esposa Teresinha, meus filhos César, Otávio, Anamaria e Andréa, pela paciência e desprendimento que têm, aceitando minhas ausências e as intermináveis arengas a respeito da saúde, da medicina e da situação dos médicos, meu amor. E o agradecimento imenso a Werner Becker, pois, sem sua bondade e amizade, nada disso estaria acontecendo a mim, neste momento.

Quero, no entanto, reservar minhas últimas palavras de agradecimento, cumprimentando-a pelo aniversário, ontem ocorrido: nossa Porto Alegre. Cumprimentos desde que muito cedo se transformou em cidadão por ocasião e hoje, de fato e de direito, tem com esta Cidade profundos vínculos. Novamente as circunstâncias fizeram com que eu possa me considerar um conhecedor razoável de nossa Cidade, pois morei em vários bairros e em alguns deles de forma repetida.

Aqui chegando, habitamos, por curta temporada, a antiga Pensão Viaduto, bem no coração da Cidade. Mudamo-nos para a Rua Comendador Coruja, Floresta, após para a Vila Assunção, naquela época com apenas dez famílias em caráter permanente; após no Bom Fim; mais tarde, em Petrópolis, no Caracol, ainda com chácaras urbanas e de onde costumava pegar carona no carroção do leite, viagem lenta e pitoresca, rumo ao Rosário; mais tarde, novamente, na Floresta; mais uma vez em Petrópolis, uma vilegiatura por rápido tempo no Partenon, de onde os mosquitos nos expulsaram. Teresópolis por duas vezes, com um entreato no Bom Fim novamente; após casado, no Centro, na Cidade Baixa, Vila Assunção, Bom Fim, Tristeza, e agora, espero que em  definitivo, novamente na Vila Assunção.

Posso dizer que conheço Porto Alegre com suas nuances, pois, embora uma mesma cidade, cada bairro possui características próprias que influem no comportamento de seus moradores. Certamente, muito ainda teria a aprender se mais tempo e mudanças tivessem. Porém, melhor do que eu, nosso grande poeta Mário Quintana, com a poesia “Mapa”, define tudo o que eu gostaria de dizer a respeito de nossa Cidade: “Olho o mapa da cidade/ Como quem examinasse/ A anatomia de um corpo/ (É que nem fosse meu corpo...) Sinto uma dor infinita/ Das ruas de Porto Alegre/ Onde jamais passarei... Há tanta esquina esquisita/ Tanta nuança de paredes/ Há tanta moça bonita/ Nas ruas que não andei/ (E há uma rua encantada que nem em sonhos sonhei...) Quando eu for, um dia desses/ Poeira ou folha levada/ No vento da madrugada/ Serei um pouco do nada/ Invisível, delicioso/ Que faz com que o teu ar/ Pareça mais um olhar/ Suave mistério amoroso/ Cidade do meu andar/ (Desde já tão longo andar)/ E talvez do meu repouso”.

Repouso dos meus pais, Nestor e Jesuína, a quem devo a minha existência e que, de onde estiverem, estarão alegres com a minha alegria. A eles meu muito obrigado pelo amor que me dedicaram. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Assim vamos encerrar a presente Sessão Solene, agradecendo a presença de todos. Nossos cumprimentos ao novo Cidadão de Porto Alegre.

Está encerrada a Sessão.

 

(Levanta-se a Sessão às 18h285min.)

 

* * * * *